Abadia na Inglaterra incorpora soluções sustentáveis, destacando luz natural.
Milagre verde
Abadia na Inglaterra, do escritório Feilden Clegg Bradley, incorpora soluções sustentáveis.
As irmãs beneditinas enclausuradas do Convento de Nossa Senhora da Consolação, na Inglaterra, resolveram inovar: ao encomendar o projeto de seu novo refúgio ao estúdio britânico Feilden Clegg Bradley, expressaram preocupação com a sustentabilidade. Isso faria da Stanbrook Abbey a primeira construção do gênero alinhada com questões verdes, conforme divulga o escritório de arquitetura.
“Ao mudar de sua antiga casa vitoriana em Worcestershire [170 km a noroeste de Londres], o modo de vida contemplativo das freiras exigia espaços simples, tranquilos e bonitos; ou, como elas colocavam em sua visão monástica, um lugar onde pudessem ‘orar sempre’”, expõem os arquitetos responsáveis. A mudança ocorreu porque o antigo convento, de quase 170 anos, demandava gastos “exorbitantes” e seus reparos, cada vez mais constantes, distraíam as irmãs de sua vida religiosa. A venda do imóvel permitiu o financiamento inicial das obras da abadia Stanbrook.
[caption id="attachment_7809" align="aligncenter" width="550"] A Abadia Stanbrook tem boa parte de sua fachada, em alvernaria convencional e pedra, revestida de carvalho da região, utilizado de modo a ter menos impacto ambiental. A capela tem formato orgânico e janela que emula um crucifixo; à sua esquerda está a nave da igreja, que segue a inclinação da parede.[/caption]
A nova construção está no North York Moors National Park, na região norte da Inglaterra, local escolhido por ser silencioso, perfeito para uma vida contemplativa. Ali, a vista do Vale de York é ampla e o projeto deveria aproveitar-se desse landscape e da luz natural.
O projeto incluiu painéis solares para propiciar água quente para todo o complexo, uma caldeira alimentada por madeira de árvores regionais e um telhado coberto de capim, para isolar termicamente o edifício – e, ainda, levar a fauna e flora para a sua cobertura. A água da chuva, por sua vez, é recolhida para uso na limpeza dos banheiros, enquanto um sistema de esgoto com junco foi instalado. Nele, o efluente do convento é filtrado por meio de digestão anaeróbica natural.
A ventilação e iluminação natural são princípios do projeto, enquanto os materiais foram cuidadosamente escolhidos. São, em sua maioria, madeira de carvalho, pedra e cobre. “O uso de aço estrutural foi minimizado e, em vez disso, a madeira de origem local foi usada sempre que possível. O projeto também incorporou o uso de arenito, formado pelo descarte de uma fabricante de pavimentação local”.
[caption id="attachment_7810" align="aligncenter" width="479"]
As esquadrias garantem abundante luz natural. As freiras frequentam a igreja seis vezes ao dia, desde antes do sol nascer até ele se pôr. Por isso, a ideia é que esse espaço de oração se transforme conforme a incisão da luz natural. A claridade matinal ilumina a parede curvada ao norte e, à medida que o sol se move, é refletida nas colunas de madeira.[/caption]
Atualmente a comunidade conta com 22 religiosas e duas noviças. A abadia, porém, foi projetada com 29 quartos de clausura, refeitório e cozinha, escritórios, biblioteca, lavanderia e áreas para uso da comunidade – como igreja e salas encontro. O complexo conta ainda com acomodações para hóspedes, com quartos e sala de jantar. Isso soma uma área total construída de 6.836 m2.
[caption id="attachment_7811" align="aligncenter" width="551"]
A igreja foi pensada em torno de dois eixos litúrgicos. Seus bancos são de madeira de sicômoro regional, e o altar é minimalista; no canto à direita, um órgão procura se mimetizar no ambiente. O forro de madeira, que auxilia na acústica, recebeu trilhos com spots. Abaixo, nos cortes, a disposição das paredes inclinadas.[/caption]
[caption id="attachment_7812" align="aligncenter" width="551"]
As principais áreas de estar ficam dispostas em um plano ortogonal simples. Entre elas, ligadas por um corredor envidraçado, pátio com pequenos espelhos d’água harmoniza com a paisagem idílica do entorno.[/caption]
[caption id="attachment_7813" align="aligncenter" width="551"]
Os espaços internos (como o refeitório) conversam com os externos através de esquadrias envidraçadas, que permitem entrada de luz natural.[/caption]
[caption id="attachment_7814" align="aligncenter" width="552"]
A Stanbrook Abbey tem o desejo de conversar com a paisagem que a envolve. O local foi escolhido por ser afastado, quieto e cheio de paz.[/caption]
Por Marcela Millan
Imagens Feilden Clegg Bradley Studios, Peter Cook e Tim Crocker
Matéria publicada na Revista CM 175
Faça o download do app CM e tenha acesso à todas as edições!


