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O polivalente Carlos Bratke e seus projetos

Por Marcela Millan 

Livre criador

Impulsor da Avenida Berrini, o polivalente Carlos Bratke atuou como arquiteto, urbanista, professor e dirigente de instituições e entidades.
  

“Cada edifício no qual consigo inovar é uma grande conquista. Tento fazer algo diferente, utilitário e bem pensado em termos de uso. Tenho orgulho de todas essas coisas”.

A declaração de Carlos Bratke à revista CM, em sua última entrevista (ed. 162), resume seu espírito inventivo e nem um pouco condescendente. 7

Desde menino ele se aventurava no ateliê do pai, o arquiteto Oswaldo Arthur Bratke, nos fundos de sua casa no centro antigo de São Paulo. A influência e admiração à figura paterna pautaram a infância tanto de Carlos quanto de seu irmão Roberto, também arquiteto. “Ele sempre teve o pai como referência de homem e de profissional, e não foi surpresa quando seguiu seus passos”, afirma sua filha – igualmente arquiteta! –, Bárbara Bratke. Ele estudou na Universidade Mackenzie (em que se formou em 1967), onde conheceu colegas que o acompanharam durante toda a carreira, como Vasco de Mello e Tito Lívio Fascino. Além deles, Roberto Loeb, Pitanga do Amparo e Artur Navarrete também formavam um grupo de amigos que, posteriormente, foi apelidado de não-alinhados.

O desenho foi um dos talentos de Carlos Bratke – como podemos ver no croqui do Condomínio Empresarial Paulista.Ele foi pensado em dois blocos horizontais de dois andares, que abrigam escritórios. Entre eles, um cone escalonado de concreto e as marquises compõem o acesso principal. “Éramos jovens e não compactuávamos com as regras e exceções colocadas pelo modernismo. Achávamos que deveríamos ter plena liberdade de projetar, com conhecimento novo e anterior, além de usar muita criatividade”, lembra Vasco de Mello, arquiteto e professor da Belas Artes.  Segundo Bárbara Bratke, seu pai não seguia a ideia de que as formas tinham que corresponder com a função. “Ele passeou por diversos estilos, por conta de sua curiosidade, e sempre testou muito. Era ousado, experimental e não tinha medo do novo”, assinala.

Foi à frente de seu próprio escritório, localizado na Vila Olímpia, que Carlos teve, em 1968, uma ideia visionária para a Berrini – uma grande avenida com poucas construções e baixo valor comercial, à época. “Ele pensava no futuro e sabia que aquela região tinha potencial. Encontrou investidores para comprar um terreno e fazer seu primeiro prédio, o Bandeirantes. Foi um sucesso!”, conta Bárbara. Hoje são 60 projetos do arquiteto na região, que tornou-se um dos principais polos de negócios do país. Ali, ele usou materiais como alumínio e vidro, e redefiniu a cara de São Paulo. 

O Centro Empresarial e Cultural João Domingues de Araújo (JDA), na região da Berrini, tem o acesso principal pela marquise de aço corten, com desenho que lembra um tecido fluido. Conta com auditório, café e espaços de exposição. No sketch do JDA é possível ver como o projeto é geométrico e minimalista. Ele tem estrutura de concreto e dois volumes principais: um cilindro de cerca de 16 m de raio que parece entrar em um prisma retangular com base quadrada, com 30 m de cada lado. O cilindro foi fechado com vidros laminados reflexivos, ao passo que o prisma alterna vidros opacos e brancos.

“Bratke faz parte de um seletíssimo elenco de arquitetos paulistas que atuaram em três campos distintos”, afirma Maria Helena Flynn, arquiteta e diretora de Acervo do IAB-SP. “O primeiro campo, uma de suas paixões, era a criação de projetos, apresentados com o traço inconfundível de suas plantas e croquis. O segundo, a docência no Mackenzie e na Belas Artes. O terceiro, sua consciência política junto ao IAB-SP, na qualidade de vice-presidente nas gestões 1988-1989, 1990-1991, e como presidente no biênio 1992-1993.  Sua percepção cultural também o levou a atuar à frente de instituições como a Fundação Bienal de São Paulo, responsável pelas Bienais Internacionais de Arquitetura e Arte, e do Museu da Casa Brasileira”.
Com um repertório de atuação tão vasto, Bratke deixou marcas no país e fora dele, com projetos no Uruguai, Israel e Estados Unidos. “Ele produziu bastante, foi um formador de opinião em vários setores, com um largo espectro de atuação, deixando um legado múltiplo. Não só de sua arquitetura, mas também de sua participação e visão de mundo. É um legado amplo que vai influenciar muita gente por um tempo bastante grande”, ressalta Tito Lívio Frascino, arquiteto e professor do Mackenzie. 

Construído em 1992 no centro de São Paulo, o edifício do Banespa traz um dos materiais favoritos de Bratke – o vidro. Sua base escalonada permitiu a implantação de jardins. O Edifício Oswaldo Bratke, no qual as lajes desencontradas e torres de circulação vertical compõem os volumes principais. Atualmente ele abriga o escritório de Bratke e é tido como o projeto favorito de sua filha Bárbara. “É a síntese de tudo o que meu pai sempre se preocupou em fazer, com circulação externa, mezanino aberto com jardim e meias lajes”.Localizado em Cubatão (SP), o Centro de Capacitação e Pesquisa do Meio Ambiente – com administração da USP – é marcado pela diversidade de formas. Tem cerca de 3,6 mil m² construídos e é composto por um bloco em L que se interliga a um volume cônico, de concreto, que abriga recepção elevador. Dali, duas vigas de metal sustentam um volume suspenso, do mesmo material, que sedia o setor administrativo. A forma triangular compreende o auditório. A casa de campo de Carlos Bratke, em Campos do Jordão, também brinca com formas não convencionais, com armação de telhado do tipo tesoura, característica da fachada lateral. Pedras da região, madeira e tijolos foram os materiais escolhidos para trazer aconchego.


Imagens Cacá Bratke, Carlos Fadon Vicente, Carlos Henrique dos Santos e José Moscardi Jr.

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