Decorar360

Posted on

Olga Krell, a dama da decoração

_MG_4216

 

Olga Krell, desbravadora, quebrou paradigmas, alavancou carreiras e fomentou o setor no Brasil. A dama da decoração contou sua história para CM: quando fez quatro anos de idade, em 2 de setembro de 1939, ela deixou sua terra natal, a cidade de Cracóvia, na Polônia, em direção à então Tchecoslováquia. O clima de tensão estourava na Europa – dando início à Segunda Guerra Mundial – e seu pai, o arquiteto Alfred Duntuch, já havia previsto a invasão por parte das tropas de Adolf Hitler, que aconteceu justamente um dia antes de sua partida. Com visto para o Brasil, a família embarcou em um navio para Recife (PE). De lá, partiu para o Rio de Janeiro e, finalmente, São Paulo, cidade grande que agradou a seu pai. Em pleno crescimento, a metrópole carecia de arquitetos e rapidamente Alfred conseguiu emprego em um escritório. Anos depois, o profissional decidiu abrir a própria empresa, a Luz-Ar Arquitetura e Construções. “Meu pai dizia que luz e ar qualquer prédio ou casa precisa ter”, contou Olga. Como toda criança, um dos seus passatempos favoritos era visitar o trabalho do pai; aquelas idas lhe inspiraram de tal forma que decidiu cursar arquitetura.

  acervo familia_04 13-

Para que a jovem tivesse contato com a área, seu pai lhe indicou estágio com o arquiteto Oscar Niemeyer, na época da construção de Brasília. A seguir, seu desafio foi ser aceita no curso superior de arquitetura, já que a maioria das universidades, principalmente no Brasil, só aceitava homens. “Fui estudar na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Eu era a única mulher da minha turma”, contou a jornalista.

 

Em 1958, Olga casou-se com o engenheiro americano William Krell, do qual adotou o sobrenome, e o casal veio morar no Brasil. Ela passou a trabalhar no escritório de seu pai e um dia recebeu uma visita que iria mudar os rumos da sua carreira: seu amigo dos tempos da escola, Roberto Civita, filho de Victor Civita, fundador da Editora Abril, a convidou para trabalhar na revista “Claudia”, pioneira no ramo de publicações femininas no país.

 

“Roberto e eu estudamos juntos e sempre brigávamos para ver quem seria o primeiro da classe”, sorriu. A primeira publicação feita foi a “Cozinha Experimental de Claudia” e em seguida surgiu a “Casa de Claudia”. “Os arquitetos brasileiros estavam começando a brilhar e eu conhecia gente que tinha a casa bonita”, comentou. Ao perceber o potencial da publicação, Victor Civita decidiu enviá-la para estagiar em diversas publicações nos Estados Unidos, na Alemanha e na Itália. Mais tarde, formou-se jornalista na Universidade de Stanford, na Califórnia.

  [caption id="attachment_5140" align="aligncenter" width="1718"]A imagem mostra a jornalista em ação, na época em que as redações não contavam com computadores, nem havia câmeras digitais. Na parede, um painel com o “chefão” Civita. Formada em arquitetura, foi convidada por ele para trabalhar na Editora Abril na década de 1960. A imagem mostra a jornalista em ação, na época em que as redações não contavam com computadores, nem havia câmeras digitais. Na parede, um painel com o “chefão” Civita. Formada em arquitetura, foi convidada por ele para trabalhar na Editora Abril na década de 1960.[/caption]  

Ao todo, Olga ficou 40 anos na Editora Abril, chegando ao cargo de diretora de grupo de revistas ou, em inglês, editor/publisher. “Revelei grandes nomes como Roberto Migotto, Sig Bergamin e João Armentano. Além disso, auxiliei na seleção de profissionais para a primeira edição da Casa Cor, em 1987, em São Paulo”, comentou. Também teve forte atuação no antigo estúdio da editora, do qual foi diretora. Olga tinha como sonho tocar a sua própria revista – e assim o fez. Após sair da Abril, fundou a “Espaço D”, que circulou por cerca de dois anos.

 

Ultimamente, vivia uma rotina mais tranquila. Do seu home office, localizado na residência que ela mesma projetou nos anos 1970, no bairro do Morumbi, em São Paulo, ela ainda editava duas revistas do setor. Segundo a jornalista, seu pai tinha razão quando disse que a faculdade de arquitetura iria ajudá-la. “Eu posso não saber fazer, mas sei diferenciar”, disse. Dando uma pequena volta por sua casa era possível identificar seu principal hobby: diversas peças do artesanato brasileiro dividiam espaço com os móveis da família e obras de arte, dando vida a uma decoração única, assim como era Olga Krell.

 

Imagens: Ricardo Breda e acervo da família

]]>

Deixe um comentário

Your email address will not be published.
*
*