
Juntos!
coluna | Daniele Lauria | @studio.lauria
How will we live together? Como vamos viver juntos? O título da Bienal de Veneza, dirigida por Hashim Sarkis, não poderia ter sido mais atual e vinculativo considerando a pandemia em andamento. Assim, a decomposição da questão colocada por Hashim Sarkis determina uma reflexão cuidadosa sobre cada palavra e nos leva a enfatizar a última que representa, em minha opinião, a pedra angular. JUNTOS não é apenas o advérbio que qualifica e especifica a finalidade de novas formas de convivência, principalmente no meio urbano, mas acaba sendo um substantivo que pretende transformar a humanidade de uma pluralidade de indivíduos (“eu”) em um sujeito coletivo (“nós”). Uma necessidade que não pode mais ser adiada se olharmos com responsabilidade para os recursos limitados e para os desequilíbrios sociais e econômicos que ocorrem nas grandes cidades de todo o planeta. Nos últimos meses, conversei bastante sobre isso com o vencedor do Prêmio Pritzker 2018, o arquiteto indiano Balkrishna Vithaldas Doshi. Surgiu, então, a ideia de desenvolver um projeto que envolva arquitetos de diferentes culturas para discutir sobre as novas formas com as quais o ser humano habitará o planeta no futuro.
Indian Institute of Management, Bangalore. Projeto de Balkrishna Vithaldas Doshi
Assim, JUNTOS tornou-se o título de um projeto expositivo que assinei pelo Colégio dos Arquitetos de Veneza e o FAI (Fundação Itália para o Meio Ambiente), e que será patrocinado e organizado pela IQD, uma das maiores revistas de arquitetura na Itália. A exposição será montada, com desenho proporcionado pelo meu escritório de Florença, na famosa loja Olivetti, projetada por Carlo Scarpa na Piazza San Marco, em Veneza, uma referência mundial em design de interiores.
Unité d’Habitation de Marselha. Crédito da foto: Acervo German Samper
A exposição será composta por três seções: ONTEM – HOJE – AMANHÃ.
ONTEM. A Unité d’Habitation de Marselha representou, no imediato pós-guerra, um símbolo da possível síntese entre arquitetura e urbanismo: o edifício desenhado por Le Corbusier. Na exposição, apresentaremos fotos inéditas da obra em andamento, que se tornou uma referência essencial para uma toda uma geração de arquitetos que, ao longo da segunda metade do século XX e, principalmente, nas décadas de 60 e 70, investiram todas as energias possíveis não só no design e soluções de habitação social, como também nos bairros e cidades baseadas em modelos de participação e de socialidade “coletiva”. Por enquanto, nosso roteiro expositivo começa contando a história de um modelo antigo, o da habitação social vienense, que acaba de completar 100 anos. Destacaremos os bairros projetados por Hassan Fathy no Egito, as intervenções do jovem Balkrishna Vithaldas Doshi, os projetos de autoconstrução assistida na Colômbia, dirigidos por German Samper e, finalmente, a experiência, ainda pouco conhecida, do PREVI (Proyecto Experimental de Vivienda) de Lima, do qual participaram os arquitetos mais conceituados do mundo no início dos anos setenta.
HOJE. O nosso projeto curatorial dirige-se a escritórios de arquitetura que trabalham a serviço das comunidades locais, com uma exposição de projetos exemplares. Vamos abordar os fascinantes projetos de “social housing” (como o “Carabanchel Housing”, de Foreign Office Architects) e a obra dos novos Prêmios Pritzker Lacaton e Vassal. Falaremos da reconstrução da aldeia de Momonoura, obra do coletivo japonês Bow-Wow, e das atividades dos mexicanos de C-Cubica, cujo “Museo del Niño” se tornou o coração pulsante de um renascimento comunitário em Chiapas. Iremos, também, dar espaço às várias intervenções dedicadas às estruturas escolares e comunitárias no continente africano (por exemplo, a pousada de Limpopo) e à remodelação das infraestruturas urbanas como lugar para consertar as relações, o que aconteceu na África do Sul com o Westbury Bridge.
AMANHÃ. É a seção expositiva dedicada à ideias para a cidade do futuro e aberta aos inúmeros profissionais que estão a conceber espaços para a comunidade, com projetos e pensamentos fora da caixa, evitando a banalização da emergência ditada pela pandemia em curso. Todos são convidados a condensar, em um suporte de formato quadrado (30×30 cm), imagens, anotações e desenhos relativos a projetos (acabados, em andamento ou simplesmente “sonhados”) que podem prefigurar novos cenários de sociabilidade, novas formas de compartilhar o habitat urbano, novas formas de participação e novas arquiteturas de convivência. Entre os arquitetos e estúdios que serão convidados estão: Kengo Kuma (Japão), Alfredo Jaar (Chile), Giancarlo Mazzanti e Plan-B (Colômbia), Samuel Torres de Carvalho (Portugal), AOR (Finlândia), Piotr Lewicki (Polônia), Jan de Vylder (Belgio), Clé Millet International (França), Flores y Prats (Espanha), Corvino + Multari e Italo Rota (Itália) e muitos outros.
Limpopo Youth Hostel. Crédito da foto: Tristan Mclaren
Loja Olivetti, em Veneza – Itália
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fotos | Divulgação