O exuberante iluminado Louvre Abu Dhabi
Chuva de luz
Com inspiração na arquitetura árabe tradicional, o Louvre Abu Dhabi enche os olhos de luz e sombras, com projeto do francês Jean Nouvel.
Brincar com os raios do sol, incorporando-os ao projeto para criar ambientes etéreos, nos quais os visitantes são recebidos por uma chuva de luz, foi uma das ousadias do Louvre das Arábias. Com 97 mil m² de área construída na ilha artificial de Saadiyat, ao lado de Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), é fruto de uma cooperação cultural assinada em 2007 junto à França.
“O projeto deseja criar um mundo acolhedor, combinando serenamente luz e sombra, reflexão e calma. Deseja pertencer a um país, à sua história, à sua geografia, sem se tornar uma tradução plana, o pleonasmo que resulta em tédio e convenção”, assinala Jean Nouvel, arquiteto ultrapremiado à frente do projeto. Considerado um museu-cidade, tem 55 construções individuais que se dividem para abrigar 23 galerias (que somam cerca de 8.600 m² e 600 obras de arte), espaços expositivos, um auditório de 420 m² e 250 assentos, restaurante, café e até um museu destinado aos pequenos, com 200 m². Foram dez anos entre sua fase de concepção e inauguração e, antes mesmo de concluído, o Louvre Abu Dhabi já contava com dois prêmios: o Identity Design Award, em 2015, e o European Steel Design Award, em 2017.
A arquitetura tradicional árabe inspirou Jean Nouvel, que a traduziu para a contemporaneidade. Como exemplo, o elemento arquitetônico mais marcante do Louvre, a sua cúpula, evoca a forma como a luz atravessa as folhas das palmeiras sobrepostas, muito utilizadas em telhados da região. Com 180 m de diâmetro e 29 m de altura, ela é sustentada por quatro pilares. É composta por oito camadas: as quatro exteriores são de aço inoxidável, enquanto as internas são de alumínio, separadas por uma armação de aço. Toda essa estrutura demorou 10 meses para ser construída, contando com 85 elementos de cerca de 50 toneladas cada.
O padrão perfurado da cúpula foi feito em parceria com os engenheiros da BuroHappold Engineering. São aberturas de diversos tamanhos e ângulos que se repetem em todas as camadas, fazendo com que a luz se disperse. A impressão é de observar o sol sob a água! Apelidado de “chuva de luz”, esse efeito se traduz em 7.850 ‘estrelas’ perfuradas.
A fachada, por sua vez, é constituída por cerca de 4 mil painéis de concreto pré-fabricado de alto desempenho (UHPC), com 4 m de altura e cerca de 10 toneladas – tudo para suportar a água que rodeia o museu, que pode ser acessado a pé (por passarelas) ou de barco.
Além de visualmente impactante, parecendo flutuar sobre as águas, o Louvre Abu Dhabi é pensado para ter pouco impacto ambiental. “Os sistemas de energia solar passiva naturalmente aumentam o resfriamento dos edifícios e otimizam o uso da água. São exemplos disso o efeito de sombreamento da cúpula, sua perfuração para permitir a entrada de luz do dia, além do uso de materiais claros e reflexivos e massa térmica exposta, como o piso de pedra que se beneficia do resfriamento noturno”, finaliza o arquiteto.
Por Marcela Millan
Imagens Ateliers Jean Nouvel, Marc Domage, Mohamed Somji, Roand Albe e Sarah Al Agroobi
Matéria publicada em Anuário CM edição 20.